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O meio campo é o lugar dos craques? Sim, mas também é o lugar de ganhar dinheiro.

No Brasil, o futebol se transformou em um modelo de negócios que movimenta bilhões de reais todos os anos. Apenas em 2022, o mercado de transferências movimentou US$ 6,5 bilhões, aproximadamente R$ 32,2 bilhões. E não para por aqui! Um estudo encomendado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) indicou que o esporte movimenta R$ 52,9 bilhões na economia do país, quase 1% do total do Produto Interno Bruto (PIB).

E como todo negócio, o mercado da bola está em constante evolução. Uma tendência que vem ganhando destaque desde os anos 90 é o Multi-Club Ownership. Neste artigo, vamos explicar o que é o Multi-Club Ownership, apontar suas vantagens e desvantagens, clubes brasileiros que adotaram esse modelo e os próximos passos para sua regulamentação.

O que é o Multi-club Ownership?

O Multi-club Ownership é um modelo de gestão no futebol em que uma única entidade ou empresa detém participação acionária ou controle em mais de um clube. Isso significa que os clubes sob essa gestão usam os mesmos recursos, estratégias de negócio e, às vezes, até mesmo jogadores.

Esse conceito desafia a ideia tradicional de clubes independentes e pode ter implicações profundas no cenário do futebol. Atualmente, no Brasil, dois clubes brasileiros se destacam por usar o modelo de Multi-Club Ownership: Botafogo e Cruzeiro.

Como o Multi-Club Ownership é regulamentado no Brasil

Lei 14.193 de agosto de 2021, conhecida como Lei da SAF, “institui a Sociedade Anônima do Futebol [SAF] e dispõe sobre normas de constituição, governança, controle e transparência, meios de financiamento da atividade futebolística, tratamento dos passivos das entidades de práticas desportivas e regime tributário específico.”

Ou seja, esta nova legislação busca organizar a estrutura do Multi-Club Ownership no Brasil, abrindo portas para que a SAF possa ser constituída de três maneiras.

  1. Pela transformação do clube ou pessoa jurídica original em SAF;
  2. Pela cisão do departamento de futebol do clube ou pessoa jurídica original e transferência do seu patrimônio relacionado à atividade futebol;
  3. Pela iniciativa de pessoa natural ou jurídica ou de fundo de investimento.

Clubes brasileiros que estão no modelo Multi-club Ownership

Alguns clubes brasileiros já adotaram o modelo de Multi-club Ownership, buscando as vantagens que essa abordagem pode oferecer. Dois exemplos notáveis são o Botafogo e o Cruzeiro.

Botafogo

Como parte de uma estratégia para lidar com seus problemas financeiros – o Botafogo é o segundo time mais endividado no Brasil – o clube apostou no Multi-Club Ownership, um modelo de negócios que entrou em vigor em 2022.

Em uma matéria do Globo Esporte, publicada em janeiro de 2022, lemos como foi acordada a nova composição societária do clube:

“O Botafogo [Sociedade Anônima de Futebol] (SAF) terá a venda definitiva de 90% de suas ações para o empresário americano [John]Textor – representado neste negócio por sua empresa, Eagle Holding. Outros 10% continuarão sob propriedade da associação civil sem fins lucrativos, o Botafogo de Futebol e Regatas.”

Cruzeiro

O Cruzeiro – primeiro lugar na lista de clubes mais endividados do futebol brasileiro – adotou o Multi-club Ownership em 2021, em meio a um período financeiramente turbulento. O clube se tornou uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) enquanto enfrentava o rebaixamento para a Série B.

Em dezembro do mesmo ano, o jogador Ronaldo, o Fenômeno, comprou 90% do clube por R$ 400 milhões. Através de acordos comerciais e investimentos, o clube busca reverter sua situação e recuperar seu status de sucesso no futebol nacional.

As vantagens do Multi-club Ownership

Adotar o Multi-Club Ownership, como visto anteriormente, é uma saída para problemas financeiros. Por este motivo, Botafogo e Cruzeiro, os times mais endividados do Brasil, apostam na abertura da sua composição societária. Mas as vantagens não param por aqui.

Injetar dinheiro em clubes endividados

Uma das principais vantagens do Multi-club Ownership é justamente essa capacidade de injetar capital em clubes endividados. O dinheiro que entra no caixa é usado como recurso para quitar dívidas, investir em novas contratações e ampliar a capacidade esportiva do time.

Diversificar a carteira de investimentos

Para investidores, o Multi-club Ownership oferece a oportunidade de diversificar sua carteira de investimentos. Ao invés de um investimento exclusivo em um clube, os investidores podem pulverizar os seus recursos e reduzir os riscos entre vários times. No final das contas, é a melhor chance de lucrar.

Angariar patrocínios e fechar parcerias

Com o Multi-club Ownership, os investidores e fundos de investimento abrem portas para novas conexões com patrocinadores e parceiros em setores variados do mercado. Os clubes podem se beneficiar destas opções estratégicas para aumentar a receita adicional e os novos contratos podem expandir a presença das empresas em meio aos torcedores.

As desvantagens do Multi-club Ownership

Porém, nem tudo são taças. O Multi-Club Ownership ainda é um modelo recente, portanto ainda precisamos de mais tempo para avaliar como as vantagens e desvantagens se consolidam na rotina dos clubes. Outro ponto que ainda vamos entender é quais consequências vão pesar mais para os times que adotaram o Multi-Club Ownership.

Atualmente, algumas desvantagens já podem ser observadas. Sendo assim vamos explicar quais delas estão no radar dos investidores, times e torcedores.

Plano de negócio versus plano esportivo

Uma das principais desvantagens do Multi-club Ownership é o descompasso entre o plano de negócios dos investidores e o plano esportivo da equipe técnica. Quando os interesses financeiros prevalecem sobre os esportivos, é imperativo que haja algum prejuízo no desempenho e na competitividade do clube.

Dois clubes sob a mesma gestão em uma final

Outro problema que pode surgir é a seguinte situação: Dois clubes que possuem os mesmos investidores, ou fundos de investimento, vão se enfrentar na final de um campeonato importante. Como assegurar que os sócios se manterão neutros?

Recentemente, o futebol brasileiro é motivo de desconfiança. Instaurada em maio de 2023, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pretende investigar esquemas de manipulação de resultados em partidas de futebol profissional no Brasil. Estes esquemas visam beneficiar casas de apostas e seus usuários e promover o enriquecimento ilícito.

Este cenário levanta questões éticas e coloca o comprometimento e a integridade do Multi-Club Ownership sob apreensão.

Monopólio de atletas de alto rendimento

Em alguns casos, o Multi-club Ownership pode resultar em um monopólio de atletas de alto rendimento, impedindo que outros clubes tenham acesso a estes talentos promissores. Os atletas são vendidos, trocados ou emprestados para outros clubes que compartilham os mesmos investidores, portanto as possibilidades são reduzidas.

Esta postura, de maneira geral, compromete o desenvolvimento do esporte. O intercâmbio de jogadores, e podemos estender para membros da comissão técnica, reduz as opções de aprendizado com outros profissionais e o nível do futebol como um todo.

O próximo passo para o Multi-club Ownership

O primeiro passo no caminho do Multi-club Ownership é a revisão da legislação nacional e internacional, um esforço conjunto para que as desvantagens mencionadas acima não comprometam o mercado da bola ou o desempenho do esporte.

A criação de diretrizes claras e éticas para esse modelo de gestão é fundamental para garantir que o futebol permaneça sendo disputado apenas nos gramados, e não nas salas de reunião.

Os torcedores, os mais apaixonados, também precisam saber que seus times ainda vão colocar muita bola para rolar. Sem o público pagante nos estádios, as compras de material esportivo do clube e programas de fidelização, o time perde grande parte de sua receita. Por este motivo, o Multi-Club Ownership precisa colocar o torcedor no centro do negócio.

MBA em Direito Desportivo

E de que adianta uma bola na área sem ninguém pra cabecear?

Multi-Club Ownership ainda é um aspecto do mercado que está em evolução, sendo assim o espaço para advogados que desejam atuar com o esporte continua crescente.Por isso, o CEDIN criou o MBA em Negócios no Esporte e Direito Desportivo. Assim, os profissionais podem aprender tudo o que precisam para atuar no mercado da bola.

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